segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Empreender: uma saída para o desemprego? 


Por Edson Moraes*

Diversas pessoas procuram no coaching uma forma de se organizar, externa e internamente, para encararem o processo de desenvolvimento de um negócio. Empreender é o desejo de uma considerável porção de profissionais que trabalha empregada em empresas. Com o índice de desemprego nas alturas e uma leva de pessoas disponíveis em um mercado com oportunidades reduzidas, muitos aproveitam a contingência, traduzida como oportunidade, para abrir um negócio próprio, seja individualmente ou com alguns sócios, muitas vezes familiares ou amigos que deixaram a mesma empresa e que sentem a mesma dificuldade no processo de recolocação.

Pesquisa realizada pelo Sebrae no final de 2016 e respondida por mais de 6.600 empreendedores, a partir da pergunta “Na sua opinião, atualmente, qual o principal ‘benefício’ para se tornar empresário(a)?”, apurou que os dois principais benefícios citados pelos entrevistados estão associados ao lado financeiro, sendo “manter a renda” (31%) e “ter independência financeira” (26%) as principais respostas escolhidas. Outras opções, como “conciliar trabalho e família” (22%) e “se realizar como empreendedor” (15%) aparecem com menor relevância.

Números como os apresentados acima demonstram que muitas pessoas anteriormente empregadas não empreendem por perceberem alguma demanda do mercado ou por imaginarem ter uma proposta de valor associada a um produto ou serviço, quesitos necessários para se abrir um negócio, mas buscam “comprar seu salário”, principalmente em um momento no qual o emprego está diminuto.

O Sebrae apura que o número de empreendimentos aumenta em momentos de retração da economia, o que evita uma maior estagnação do país. Sem empreendedores de pequeno porte, o número de desocupados seria ainda maior. Mas esquecem de avaliar que esse aumento nem sempre acontece por desejo de empreender, mas pela falta de opções.

Abrir uma empresa, seja em qualquer setor, requer um plano de negócios detalhado, fruto de muita pesquisa, análise e planejamento, buscando oferecer algo de valor ou atender a uma necessidade percebida do mercado. A jornalista Claudia Giudice, no livro “A Vida Sem Crachá”, aponta como lição aprendida a disposição para trabalhar. Ela diz que “o negócio próprio, pequeno ou grande, prospera quando o seu criador está por perto, investindo seu dinheiro e energia. Foi assim com Steve Jobs, Bill Gates e segue sendo com Mark Zuckerberg, que até hoje pega no pesado, trabalhando para melhorar as funcionalidades do Facebook. Esse é o caminho”. Simples assim.

Um plano de negócios deve contemplar a descrição da oferta dos produtos e serviços, o diferencial estratégico, a análise de mercado e da concorrência, a avaliação da capacidade de delivery, a estratégia de marketing, a avaliação de investimentos e as projeções financeiras. Apesar de Claudia Giudice declarar em seu livro que não elaborou um plano de negócios para os planos que se seguiram à perda do emprego, ela afirma que posteriormente compreendeu que correu muito perigo por não ter se planejado adequadamente. Hoje ela publica um blog e administra uma pousada na Bahia.

Um empreendedor deve possuir características e competências específicas, como atitude positiva, resiliência, habilidades de comunicação, conhecimento do negócio, capacidade de observação do mercado, de seus concorrentes e das necessidades de seus clientes e uma disposição para planejar o futuro de seu negócio, cuidando da avaliação contínua do contexto onde a oferta está inserida, pois a estagnação comprometerá a continuidade do empreendimento.

Como nem todos possuem todas as competências, desenvolvê-las ou delegá-las é parte da maturidade requerida para o desenvolvimento do negócio. Competências não desenvolvidas podem ser trabalhadas no coaching, mas a delegação requer assertividade na escolha de funcionários ou sócios.

Caso haja o desejo de empreender em você, faça contas. Busque investidores e reserve parte de seu capital para a gestão financeira da família, permitindo foco no negócio e não nas contas domésticas a pagar no mês seguinte. Comprometer suas reservas, incluindo o pacote de rescisão e o FGTS, somente aumentará a ansiedade pelo resultado do negócio, algo que pode demorar a acontecer. Como muitos relevam a importância do planejamento, o andamento da empresa corre sérios riscos. E a poupança da família toda investida no negócio vai embora junto com as chances de algum resultado.

Desde o início de julho, microempreendedores individuais podem negociar débitos tributários com o governo federal em até 120 meses. No mês de agosto, por dia, mais de 1.000 microempresários pediram parcelamento de dívidas. Quanto destas dividas não seria evitado por algum planejamento?

Ao elaborar seu plano de negócio, calcule o investimento e o prazo de retorno, avaliando previamente a viabilidade econômica de sua ideia de negócio e invista tempo e dinheiro em pesquisa. Conhecer o mercado, clientes potenciais, concorrentes e tendências, repito, é fundamental para a estruturação de qualquer negócio. Caso não esteja seguro, guarde seu dinheiro e continue pesquisando. Gostar de pizza não significa que abrir uma pizzaria dará o resultado esperado, mesmo que você se farte de comer o que gosta todos os dias.


*Edson Moraes é sócio do Espaço Meio -  https://espacomeio.com.br, Executive Coach desde 2014 e Consultor (Gestão & Governança) desde 2003. Foi Executivo do Bank of America entre 1982 e 2003. Seguiu carreira na Área de Tecnologia da Informação, foi Head do Escritório de Projetos e CIO por 4 anos. É Master em Project Management pela George Washington University.  Participou de programas de educação executiva na área de TI ( Stanford University, Business School São Paulo e  Fundação Getúlio Vargas). Formado em Comunicação Social – Jornalismo pela PUC/SP. É Conselheiro de Administração formado pelo IBGC, Coach pelo Instituto EcoSocial e certificado pelo ICF.  Articulista e palestrante nas áreas de Governança, Tecnologia da Informação e Gestão de Projetos.

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