sábado, 20 de janeiro de 2018

Vitamina D pode influenciar a taxa de sucesso de tratamentos de fertilidade?

Uma nova análise concluiu que existe uma relação entre o status de vitamina D da mulher e a taxa de sucesso do tratamento de reprodução assistida. A infertilidade é uma questão comum e angustiante, e afeta cerca de 6,1 milhões de casais só nos Estados Unidos. Isso é cerca de 10% de todos os casais em idade fértil.

Ao longo dos anos, os tratamentos de reprodução assistida – incluindo a fertilização in vitro (FIV) e a medicação de fertilidade – tornou-se muito mais generalizada e as taxas de sucesso aumentaram. Como exemplo, dependendo da idade da mulher e da clínica envolvida, as taxas de sucesso de FIV nos EUA variam de 13% a 43%.

“Houve um aumento inicial nas taxas de sucesso graças a métodos aprimorados de escolha de embriões com as maiores chances de sobrevivência. Mas, mais recentemente, as taxas de sucesso começaram a estagnar”, afirma Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO.

Vitamina D e reprodução

Os pesquisadores acreditam que há margem para melhorar as taxas de sucesso dos tratamentos. Uma série de fatores potenciais está sendo explorado e alguns cientistas voltaram sua atenção para o papel potencial da vitamina D.

A grande maioria do nosso suprimento de vitamina D é gerada em nossa pele após a exposição à luz solar. Isso significa que os indivíduos que vivem em ambientes mais frios ou mais escuros são mais suscetíveis a menores níveis, assim como as pessoas com pele mais escura, aqueles que regularmente usam roupas cobrindo a maioria da pele e aqueles que raramente vão para fora.

Uma ligação entre a vitamina D e a fertilidade tem sido teorizada com base em uma série de observações. Por exemplo, os receptores e as enzimas da vitamina D foram encontrados no endométrio. Além disso, em estudos com animais, a deficiência de vitamina D causa menor fertilidade e menor função dos órgãos reprodutores. Em humanos, a deficiência de vitamina D mostrou aumentar o risco de pré-eclâmpsia, hipertensão induzida pela gravidez, diabetes gestacional e menor peso ao nascer.

Pesquisadores da Universidade de Birmingham no Reino Unido decidiram dar uma olhada nos dados existentes para investigar ainda mais. Eles realizaram uma análise, reabriram 11 estudos, incluindo 2.700 mulheres submetidas a tratamentos. Suas descobertas foram publicadas na revista Human Reproduction.

Deficiência de vitamina D e menores taxas de sucesso

Os estudos destacados envolveram mulheres submetidas à FIV ou injeção intracitoplasmática de esperma, transferência de embriões congelados ou ambos. Todos os níveis de vitamina D dos participantes foram verificados por exame de sangue. As concentrações de vitamina D de mais de 75 nanomol/l de sangue foram consideradas suficientes, inferiores a 75 nanomol/l de sangue como insuficientes e menos de 50 nanomol/l de sangue como deficientes.

A análise mostrou que os procedimentos em mulheres com níveis adequados de vitamina D eram um terço mais propensos a causar partos vivos do que em mulheres que eram deficientes. Quando os pesquisadores analisaram testes de gravidez positivos e gravidezes clínicas – ou seja, onde um batimento cardíaco pode ser detectado – em vez de nascimentos vivos, os resultados foram semelhantes.

Quando comparados com as mulheres que tinham concentrações insuficientes de vitamina D, aqueles com quantidades suficientes eram 46% mais propensos a ter uma gravidez clínica e 34% mais propensos a ter um resultado de teste de gravidez positivo. A análise não mostrou associação entre aborto e concentrações de vitamina D.

Uma descoberta surpreendente foi a alta prevalência de deficiência de vitamina D entre essas mulheres. Foi descoberto que apenas 26% das mulheres nos estudos tinham concentrações suficientes de vitamina D, 35% tinham concentrações deficientes e 45% tinham concentrações insuficientes.

Os pesquisadores são rápidos em explicar as limitações do estudo. O líder da equipe diz que embora uma associação tenha sido identificada, o efeito benéfico da correção da deficiência ou insuficiência de vitamina D precisa ser testado por meio da realização de um ensaio clínico.

Também fala de uma nota importante de cautela para que as mulheres que desejam alcançar uma gravidez bem sucedida não corram para a farmácia para comprar suplementos de vitamina D até que saibam mais sobre seus efeitos.

Existe a possibilidade de overdose de vitamina D e isso pode levar a maior taxa de calcificação no corpo, o que pode enfraquecer os ossos e danificar o coração e os rins. Esta análise atual sustenta a teoria de que a vitamina D desempenha um papel importante na fertilização e na gravidez. No entanto, o teste de vitamina D é relativamente simples e econômico, e com isso as expectativas em torno dela aumentam.

Outros estudos sobre vitamina D

Dr. Arnaldo cita outra pesquisa sobre o tema: “A vitamina D pode ajudar a desacelerar o processo de envelhecimento das células e tecidos, de acordo com pesquisadores britânicos. Um trabalho científico do King›s College London chefiado pelo médico Brent Richards e publicado no American Journal of Clinical Nutrition, avaliou 2.160 mulheres com idades entre 18 e 79 anos, e verificou a concentração de vitamina D no sangue, comparando esse dado ao comprimento dos telômeros*. Foi observado que as mulheres com níveis mais altos de vitamina D no organismo tinham maior probabilidade de ter telômeros mais longos em suas células. Este estudo ainda não chega a comprovar causa e efeito, mas acredita-se que a vitamina D pode aumentar a atividade da telomerase**”.

“Direta ou indiretamente, a vitamina D controla mais de 200 genes, responsáveis pela integridade da resposta imunológica. As fontes alimentares não são suficientes para suprir a necessidade diária, mesmo havendo o consumo desses alimentos, a exposição solar é necessária para que ocorra a conversão da vitamina D em sua forma ativa para o organismo O Instituto Linus Pauling – Instituto de pesquisa de Micronutrientes para saúde/Universidade do Estado de Oregon – recomenda a exposição de 5 a 10 minutos ao sol diariamente sem proteção, no período de menor intensidade solar”, aconselha Cambiaghi.

Porém, ele lembra que não podemos esquecer que as radiações solares provocam manchas e apressam o envelhecimento cutâneo, além de constituir a principal causa do câncer de pele, portanto deve-se ter cuidado com exposição solar em excesso.

“As fontes naturais mais ricas em vitamina D são os óleos de fígado de peixe, salmão, sardinha, cavalinha, aveia, gema de ovo e produtos fortificados com vitamina D. Os vegetais e as frutas possuem baixo teor de Vitamina D, porém é fundamental que o consumo destes alimentos seja mantido devido a sua importância nutricional para a saúde como um todo”, finaliza o especialista.
*Os telômeros ou telómeros (do grego telos, final, e meros, parte) são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de DNA que formam as extremidades dos cromossomos, que são os componentes do núcleo da célula responsáveis pela transmissão das características hereditárias. Sua principal função é manter a integridade estrutural do cromossomo.

** telomerase é uma enzima que funciona como protetor dos telômeros e tem influência crucial nos tipos de células; foi descoberta por Liz Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak, que receberam o Premio Nobel em 2009

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